I João - Capítulo 2

v.1 - “Meus filhinhos”. Esta é uma carta familiar. O velho apóstolo chama seus leitores de filhinhos, demonstrando além de sua experiência, seu afeto fraternal e paternal. “Não pequem”. A Palavra de Deus é categórica em dizer que não devemos pecar. Está escrito que “temer o Senhor é odiar o mal” (Pv 8.13). O profeta Amós disse: “Odeiem o mal, amem o bem” (Am 5.15). Devemos nos afastar de toda forma de mal (1 Ts 5.22). “Se, porém, alguém pecar”. Ao mesmo tempo que a Bíblia diz que não devemos pecar, ela admite que estamos sujeitos a pecar. Não há nas Escrituras Sagradas a “mentirosa” mensagem de que alguém pode viver sem pecar, mesmo sendo um piedoso cristão temente a Deus. “Temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. Quando pecamos, na condição de filhos de Deus, não deixamos de ser filhos, e Deus continua sendo o nosso Pai. Jesus é o nosso advogado junto ao Pai, não junto ao Juiz. O pecado quebra nossa comunhão com Deus, mas não compromete nossa filiação. Jesus resolve o nosso problema de pecado com o Pai. Ele é o Justo, pois não procura nos isentar da culpa do pecado, mas a assumiu por nós na cruz. A fé nele nos torna reconciliados com Deus.

v.2 - “Ele é a propiciação pelos nossos pecados”. Propiciação é um sacrifício oferecido a Deus para aplacar a sua ira contra o pecador. Jesus, ele mesmo, é a propiciação pelos nossos pecados. A ira de Deus caiu sobre Jesus que levou toda a nossa culpa na cruz do Calvário. Ele não é o propiciador, mas a própria oferta pelos nossos pecados. “Pelos pecados de todo o mundo”. Jesus é a oferta pelos pecados não apenas de seus contemporâneos, nem apenas pelos nossos pecados, mas pelos pecados de todas as pessoas ao redor do mundo. Isso não quer dizer que todos são perdoados e salvos automaticamente como diz o universalismo, mas sim, que qualquer pessoa em qualquer lugar pode ser beneficiada com a obra de Jesus, se nele crer como Senhor e Salvador de sua vida.

v.3 - “Sabemos que o conhecemos”. Podemos saber que conhecemos Jesus de forma bem pessoal e experimental. Conhecer a Deus é mais que obter informações sobre Deus; é conhecer a própria vida eterna (Jo 17.3). “Se obedecemos aos seus mandamentos”. Ninguém precisa duvidar se conhece ou não a Deus, pois a evidência inconfundível em sabermos que conhecemos a Deus, é a obediência aos seus mandamentos.

v.4 - Mais uma vez está escrito que se dissermos que conhecemos a Deus, mas não obedecermos aos seus mandamentos, mentimos e a verdade não está em nós. Isso é colocado no singular, para mostrar que a vida cristã é pessoal, antes que seja coletiva.

v.5 - Quando alguém obedece a palavra de Deus, “nele verdadeiramente o amor de Deus está aperfeiçoado”. O amor é demonstrado na obediência. Quando isso acontece, ficamos próximo da obediência como em nada mais. A obediência por amor provoca em nós a plena convicção de estarmos nele.

v.6 - Aqui, João me parece ir mais além. A obediência que evidência que permanecemos na luz e andamos com Deus, não deve ser ao nosso modo, mas sim em “andar como ele andou”. Com isso vem a pergunta: Como Jesus andou entre os homens? Ele andou em amor, ele amou a todos e viveu fazendo sempre a vontade do Pai. Se permanecemos em Jesus, seus amigos devem ser os nossos, seus inimigos devem ser nossos inimigos, seu estilo de vida deve ser o nosso, o que ele condenou devemos condenar, sua cruz deve ser nossa cruz e o nosso futuro deve ser o seu. Quem é capaz para tanto? Quando recebemos a Jesus pela fé, nos foi dada a capacidade de vivermos como filhos de Deus (Jo 1.12). Deus nos escolheu em Cristo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença (Ef 1.4).

v.7 - “Amados”. João tratava seus leitores como “amados” e “filhinhos”. “Não lhes escrevo um mandamento novo”. Acho isso interessante, porque vivemos dias onde quase todos querem sempre coisas novas em tudo. Mas precisamos lembrar que os fundamentos da fé são inalteráveis. Daí João dizer que lhes escrevia um mandamento antigo que eles conheciam desde o princípio.

v.8 - “No entanto”. Ao mesmo tempo que o mandamento é antigo, ele é também novo. Esse mandamento é verdadeiro em Jesus e em nós. À medida que vivemos a Palavra de Deus, as trevas vão se dissipando. Elas não resistem diante de uma vida de obediência a Deus. Quando praticamos os ensinos de Deus na Bíblia, a verdadeira luz brilha em nós e através de nós.

v.9 - Novamente João contrasta o falar com o viver. Dizer estar na luz mas odiar seu irmão, é na verdade continuar vivendo nas trevas. Ninguém consegue ter comunhão com Deus odiando seu irmão. A razão porque muitos se enganam e enganam aos outros, é porque se limitam a uma confissão oral, mas que não corresponde a uma conduta moral. Falar uma coisa e viver outra é mais comum do que queremos admitir. A grande evidência da verdadeira vida cristã não está no credo confessado, mas no credo praticado. Sem vida, o que falamos não passa de um palavreado oco.

v.10 - “Quem ama seu irmão permanece na luz”. A vida cristã é prática. É fácil saber se somos ou não somos. Quem ama está na luz e assim continua. O amor nos ilumina, facilita a vida, descomplica as relações interpessoais; “e nele não há causa de tropeço”. Quando amamos não escandalizamos, não atrapalhamos, apenas edificamos.

v.11 - Quem odeia seu irmão está nas trevas, anda nas trevas, e não sabe para onde vai. Ou seja, o ódio cega e paralisa a vida. Tudo o que uma pessoa que odeia faz, não leva a nada, pois ela não sabe para onde vai, assim como uma pessoa que anda no escuro não tem noção por onde anda, e não consegue discernir o que faz.

v.12 - Quando João fala de “filhinhos”, além de expressar seu carinho pela igreja, ele também está falando aos novos convertidos, como provavelmente acontece nesse contexto. E nada mais pode alegrar o coração de um novo crente, do que saber que os seus pecados foram perdoados por causa da obra perfeita e substitutiva de Jesus na cruz e por sua ressurreição. É uma pena que com o tempo, muitos se esqueçam da “purificação dos seus antigos pecados” (2 Pe 1.9).

v.13 - As palavras “filhinhos”, “jovens”, e “pais”, parecem referir-se mais ao estágio de desenvolvimento espiritual que biológico. Os “pais” conhecem a Deus, o que mostra uma relação madura com o Senhor; os “jovens” já têm além do perdão dos pecados, a consciência e experiência da vitória sobre o Maligno. Isso aconteceu por Jesus na cruz (Cl 2.15), mas tem a ver também com o nosso progresso espiritual (Ef 6.10-20).

v.14 - Neste contexto (vs. 12-14), João fala duas vezes para os filhinhos, duas vez para os jovens, e duas vezes para os pais. Os filhinhos têm os seus pecados perdoados e conhecem o Pai; os jovens venceram o Maligno, são fortes, e a Palavra de Deus permanece neles; e os pais conhecem aquele que é desde o princípio.

v.15 - Na Bíblia, a palavra mundo tem vários sentidos, como, criação (universo), pessoas, e o sistema pecaminoso longe de Deus, que é o estilo de vida predominante que tão bem conhecemos. Há quem fale de contradição na Bíblia, porque em João 3.16 Deus amou o mundo, enquanto que em 1 João 2.15 está escrito que não devemos amar o mundo. É que na primeira referência o mundo são as pessoas; já na segunda, é o sistema pecaminoso. Com esse entendimento, está escrito que não é possível amar o mundo e a Deus ao mesmo tempo. Não há lugar em nosso coração para amores tão contradizentes. A Bíblia diz: “Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Nossa relação com Deus é como uma aliança conjugal. Se amarmos a Deus e ao mundo, é como um homem casado que tem uma amante.

v.16 - “Tudo o que há no mundo” . Dá pra ter uma idéia de onde estamos metidos? Praticamente, “tudo” que nos envolve, não provém de Deus. Mas essa questão começa de dentro para fora, antes que de fora para dentro. Mundanismo é antes de tudo um estado de espírito, não de geografia. O que é mundano e que não devemos amar? Os desejos egoístas e pecaminosos - o desejo de possuir tudo que os olhos contemplam, e o querer estar acima de tudo e de todos. Isso tudo é do mundo e não agrada a Deus.

v.17 - O mundo com os desejos desenfreados pelas coisas passam. A felicidade efêmera baseada nas coisas e nos desejos egoístas satisfeitos, vai passar logo; as posições galgadas que se sobrepõem passarão rapidamente. “Mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”. Tudo aqui é muito breve à luz da eternidade que está tão próxima de cada um de nós.