A praga de viver sozinho

"Será imundo durante os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só; a sua habitação será fora do arraial" (Lv 13.46).

Os capítulos 13 14 de Levítico orientam aos líderes do povo judeu de como se procedia quando alguém ficava leproso, com problemas de pele variados. O texto bíblico é longo e detalhado, orientando aos sacerdotes em como deveriam tratar tais pessoas, objetos e casas.

Chamou-me a atenção o verso citado acima. A pessoa com lepra era declarada imunda e ficava isolada por uma semana ou mais até ser observada pelo sacerdote e ser considerada curada. Enquanto enferma ela ficava isolada morando fora do arraial num lugar deserto. Qualquer pessoa que dela se aproximava ouvia da boca do próprio leproso as palavras: "imundo, imundo". Era na verdade uma situação desagradável, para não dizer triste e lamentável. Sabemos que hoje a hanseníase é tratada e curada com os cuidados médicos e que as pessoas com tal doença não precisam ficar isoladas e nunca devem ser ignoradas.

Mas, se a lepra era uma praga no mundo antigo, levando o enfermo a habitar só enquanto a praga estivesse nele, praga maior é a lepra da solidão. Não me refiro ao fato de alguém morar sozinho numa casa, pois isso é opcional e muitas vezes conveniente. Estou considerando a realidade comum hoje, de muitos viverem sozinhos, sem relacionamentos saudáveis, sozinhos na multidão. Essa praga atinge milhões de pessoas hoje, mesmo vivendo em meio a aglomerações de pessoas. Muitos eram isolados por um problema de pele, mas muitos hoje se isolam por um problema de alma, de coração. Cada um quer andar pelo seu próprio caminho (Is 53.6). Vivemos num contexto de vida onde cada pessoa acha que o que pensa é o melhor, mesmo que venha a descobrir tarde demais que não era como pensava. A Bíblia diz: "Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte" (Pv 14.12). A solidão é uma praga crescente e isolante entre nós.

O materialismo é o deus deste século. As pessoas vivem em função das coisas. Adquirem cada vez mais, mas nunca se satisfazem, porque nada substitui relacionamentos pessoais. Isso é tão expressivo, que mesmo colocado num jardim perfeito e ainda sem pecado, Adão sentiu falta de alguém com quem pudesse conviver, além do próprio Deus. A comunhão com Deus não dispensa a comunhão com as pessoas. Precisamos acreditar que "a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui" (Lc 12.15). Que ninguém confunda vida abundante com abundância de coisas. Os bens materiais jamais nos darão o que podemos ter apenas nos relacionamentos de qualidade.

Jesus Cristo veio ao mundo para nos reconciliar com Deus e com as pessoas. A Bíblia diz: "Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação" (2Co 5.18). Que maravilha! Fomos reconciliados com Deus por meio de Jesus, e recebemos a graça da reconciliação. Como filhos de Deus, devemos ser pacificadores (Mt 5.9). Se possível, quando depender de nós, devemos ter paz com todos os homens (Rm 12.18).

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