A Doutrina do Pecado

Que é pecado? Qual a sua origem? Será que herdamos de Adão uma natureza pecaminosa? Será que herdamos de Adão a culpa?

Podemos definir pecado como “deixar de se conformar à lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude, seja em natureza”. A Bíblia diz que “o pecado é a transgressão da Lei” (1 Jo 3.4).

A. A ORIGEM DO PECADO

O pecado não vem de Deus (Dt 32.4; Tg 1.13). Foi o homem quem pecou, os anjos quem pecaram, e nos dois casos o fizeram por escolha intencional e voluntária. Em Gênesis 3.1-19, encontramos a ação pecaminosa de Satanás, Adão e Eva. O pecado entrou no mundo por um homem (Rm 5.12), e a serpente enganou Eva (2 Co 11.3; 1 Tm 2.14).

B. A DOUTRINA DO PECADO HERDADO

1. Culpa herdada: Somos considerados culpados por causa do pecado de Adão. Todos os membros da raça humana estavam representados por Adão quando aconteceu o pecado no jardim do Éden. Adão pecou e Deus nos considerou culpados tanto quanto Adão.

Muitos acham isso injusto. Mas não se pode esquecer que “Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento” (Rm 2.6), e que “quem cometer injustiça receberá de volta injustiça, e não haverá exceção para ninguém” (Cl 3.25). Mas, a resposta mais convincente é que Deus usou o mesmo procedimento com Cristo em relação a nós. É o que lemos em Romanos 5.12-21.

2. Corrupção herdada: Temos uma natureza pecaminosa por causa do pecado de Adão. Além da culpa legal que Deus nos imputa por causa do pecado de Adão, também herdamos uma natureza pecaminosa como conseqüência do pecado dele. Davi disse: “Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe” (Sl 51.5; 58.3). Nossa natureza tem disposição para o pecado (Ef 2.3). Isso não significa que todas as pessoas sejam as mais perversas possíveis, pois Deus nos dotou com a consciência que limita nossa tendência pecaminosa (Rm 2.14-15). Mesmo assim, nossa natureza carece totalmente de bem espiritual perante Deus (Jr 17.9; Rm 7.18; Ef 4.18; Tt 1.15).

Nossa incapacidade de fazer o bem perante Deus não fica apenas nas intenções. Nossa carne não quer nada com Deus (Rm 8.8). Sem Jesus, não podemos fazer coisa alguma que agrada a Deus (Jo 15.5). Só podemos agradar a Deus pela fé (Hb 11.6). A Bíblia chega a dizer que nossa condição natural é de mortos espirituais (Ef 2.1-2). Nossa condição sem Deus é de escravos do pecado (Jo 8.34). Daí, tudo o que fizermos para chegar a Deus por nós mesmos, é como trapo imundo (Is 64.6). Essas verdades bíblicas não entram naturalmente na cabeça de uma pessoa descrente (1 Co 2.14). Ela nunca se voltará para Deus, a não ser que o próprio Deus a atraia para junto de Jesus (Jo 6.44).

A essa altura alguém poderia concluir que não temos nenhuma liberdade de escolha. Mas sabemos obviamente que todos têm liberdade de escolher. Porém, não temos a liberdade (capacidade) de agir corretamente e de fazer o que é agradável a Deus.

O sentido claro é que se Deus dá a alguma pessoa o desejo de se arrepender e confiar em Cristo, ela não deve se demorar nem endurecer o seu coração (Hb 3.7-8, 12-17).

C. PECADOS REAIS QUE COMETEMOS

1. Todas as pessoas são pecadoras perante Deus (Sl 14.3; 143.2; 1 Rs 8.46; Pv 20.9). O Novo Testamento tece uma extensa argumentação nesse sentido (Rm 1.18-3.20, 23; Tg 3.2; 1 Jo 1.8-10).

2. As crianças são culpadas mesmo antes de pecar efetivamente (Sl 51.5; 58.3; Ef 2.1). As crianças que morrem antes de ter idade bastante para compreender e aceitar o evangelho, não serão salvas por sua “inocência”, a não ser por meio da obra redentora de Jesus (Jo 3.3; 1 Tm 2.5). Isso pode acontecer, se Deus quiser (Sl 22.10; Lc 1.15).

Quantas crianças Deus salva dessa forma? Como a Bíblia não nos dá resposta disso, simplesmente não temos como saber. (Veja 2 Sm 12.23). Mas Deus freqüentemente salva os filhos daqueles que crêem nele (Gn 7.1; Hb 11.7; Js 2.18; Sl 103.17; Jo 4.53; At 2.39; 11.14; 16.31; 18.8; 1 Co 1.16; 7.14; Tt 1.6).

Quanto à salvação dos filhos dos descrentes que morrem em idade muito tenra, a Bíblia se cala. Simplesmente devemos deixar a questão nas mãos de Deus.

3. Existem graus de pecados? Em termos legais, todos os pecados são iguais (Gn 2.17; Rm 5.16). Por outro lado, alguns pecados são piores do que outros, pois trazem conseqüências mais danosas para nós, os outros, afetando também nossa relação com Deus (Ez 8.6, 13, 15; Jo 19.11).

A Bíblia faz diferença entre pecados por ignorância e pecados intencionais (Lv 4.13, 22; 5.17; Nm 15.27-30). Veja ainda Lucas 12.48 e Tiago 3.1.

4. O que acontece quando um cristão peca? Quando pecamos, nossa posição legal perante Deus fica inalterada, pois “não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). A salvação não se baseia nos nossos méritos, mas na graça de Deus (Rm 6.23). Ainda pecamos, mas não deixamos de ser filhos de Deus (1 Jo 1.8; 3.2).

Não perdemos nossa filiação quando pecamos, mas nossa comunhão com Deus se interrompe e nossa vida cristã se prejudica. Nossos pecados entristecem o Espírito Santo (Ef 4.30), e o fruto de nosso ministério é negativamente afetado (Jo 15.4). O pecado escraviza a quem se entrega a ele (Rm 6.16). Devemos nos abster dos desejos carnais que guerreiam contra a nossa alma (1 Pe 2.11).

Alem disso, quando nós, cristãos, pecamos, perdemos parte da recompensa celeste (1 Co 3.15; 2 Co 5.10).

Existe o perigo dos “evangélicos não convertidos”. A mera associação a uma igreja evangélica, conformando-se aos parâmetros externos “cristãos”, não garante a salvação. A Bíblia alerta quanto a isso (Mt 7.21-23; 1 Jo 2.4).

5. Qual é o pecado imperdoável? Várias passagens bíblicas falam de um pecado que não será perdoado (Mt 12.31-32; Hb 6.4-6; 10.26-27; 1 Jo 5.16-17). Trata-se da determinada deliberação de atribuir a Satanás aquilo que conscientemente sabe-se ser obra de Deus. No texto de Hebreus 6, mesmo com plena consciência da verdade, a pessoa rejeita tal conhecimento. Em 1 João 5.16-17 lemos do pecado continuamente praticado que conseqüentemente leva à morte.

D. O CASTIGO DO PECADO

A justiça de Deus exige o castigo do pecado (Jr 9.24). Na cruz Deus mostrou ser justo ao condenar o pecado na pessoa de Jesus. Mas no mesmo ato ele mostrou-se justificador de quem tem fé em Jesus (Rm 3.25-26).
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Teologia Sistemática – Wayne Grudem – Edições Vida Nova